27 setembro, 2006
Nas mãos de quem? II - A missão
Em toda a história política nacional, não considerando a era pré-lusitana e a hierarquia indígena existente, notamos que o país sempre esteve na mão de posseiros. Natural não ser assim anteriormente: Tupã não o permitiria. Antes mesmo da república do café com leite por aqui se fixar, esse berço esplendido já era alvo de uma interminável sucessão de coronéis no poder.

São Paulo e Minas Gerais começaram a radiografia do país de áureos tempos. No início, almejava-se um bom administrador de fazenda pra comandar a posse dessa imensidão de terra. E até existiram bons administradores no poder. Quando um ou outro mais metido a inovador resolvia desrespeitar a voz de comando, a coisa era apelar pro capataz, e elegiam um capataz pra presidir o país. Mas como o poder sempre subia à cabeça, a coisa sempre saia como não planejada e a solução era apelar para o feitor.

Assim passaram cem anos – desses quinhentos – onde a dita república era operada como um trator que dizima uma plantação. De república que se entenda em práxis, temos modestos 20 anos. Sendo que apenas dois presidentes conseguiram cumprir seu mandato.

O primeiro teve um revertério, morreu e deixou um vice bigodudo, bonachão e dizem as más línguas escritor mediano. O segundo, andava de jet-ski, tinha aquilo roxo e foi deposto pelo “povo” - como ainda acreditam alguns - por motivos de corrupção. O terceiro (aqui aplica-se uma pequena reverência irônica), era o príncipe da sociologia nacional. Dito doutor, foi até preso político, conquistou a augusta posição de reeleito e se auto-entregou a faixa no final do primeiro mandato. Como presidente conseguiu o que nenhum economista sonhara. Acabou com a inflação, e desmentiu tudo que havia pregado como sociólogo.

Surge então um candidato suburbano, (que venceu pelo cansaço), e galgou a maior posição pública, jubilando-se de não ter estudado suficientemente pra tal. Carismático era. E ainda é, não se pode negar. Mas nem só de carisma vive uma nação.
O companheiro falhou mas não de todo! É importante analisar a inexperiência do povo que o elegeu e que até hoje ainda não sabe em quem votar, e a inexperiência de um operário que chegou a São Paulo descalço, por ter perdido suas sandálias e não ter dinheiro para novas.

A preocupação quanto a essas eleições persiste, mas não de maneira arbitrária como dizia a Regina Duarte: “ – Eu tenho medo!”

É hora do brasileiro cair em um momento de pavor, não por um candidato apenas, mas por todos. Deixemos de lado os preconceitos infundados e analisemos toda a corja que se apresenta diante de nossos olhos.

E sobre eles falaremos em seguida...

Continua...

 
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22 setembro, 2006
Nas mãos de quem?
De todos os programas televisivos da atualidade, o mais interessante é sem dúvidas o horário eleitoral gratuito. A pobre exposição de candidatos a representante da nação é factível de um estudo aprofundado do comportamento do povo que os elege. Por este motivo queremos apelar aos senhores – eleitores – leitores desta coluna, que por um momento apenas, pensem no tema proposto.

O voto é obrigatório, e portanto cada indivíduo brasileiro, morador de qualquer bairro do país, terá a mesma cota de responsabilidade durante os próximos quatro anos de vigência de mandato dos nossos governantes. Platão, em seu livro República, explica com maiores detalhes a questão do Pacto Social, e toda a responsabilidade que implica sobre qualquer indivíduo.

Trata-se de um pacto que fazemos ao nascimento, que nos permite viver em sociedade. Desde que nossos pulmões se enchem de ar, e nos tornamos indivíduos sociais, transferimos o poder de solução justa de nossas vidas a sociedade como um todo. O que nos impede de praticar uma justiça dita individual. A partir de tal momento, aprendemos a viver coletivamente e praticar as regras impostas pela nação onde brotamos.

Transferindo-se para os dias atuais, esse pacto social se refere aos policiais que roubam rádios de automóveis, de políticos com dollares em suas roupas íntimas (no melhor estilo fetichista do filme proposta indecente), de juízes que desviam verbas de construções superfaturadas (e até hoje não prestaram conta!), e todos os demais que por qualquer razão inconseqüente estão no poder por assinatura nossa.

Que o voto é uma assinatura pessoal e intransferível já sabemos. Talvez por esse motivo essa coluna seja tão contra a anulação do voto. Talvez por tentar ponderar os prós e os contras de cada candidato, e achar que há sempre uma situação em que se poderia ser pior do que se é. De fato não se sabe de onde vem tal espírito altruísta (do autor certamente não é! ele sofre de terríveis crises de claustrofobia social... ). Mas esse olhar de Polyana faz com que a situação não seja tão triste como estampam as capas dos jornais. Quem sabe poderemos passar os próximos quatro anos lendo a Caras?

Por isso devemos lembrar:

Os políticos não mandam: presidem! Os mandantes somos nós. Quando delegamos uma função não significa que estamos abrindo mão dela. Significa que outorgamos a alguém o cumprimento de fazê-la em nossa ausência. Portanto pense bem nos próximos dias a quem você confiará seu país.

Proponho mais, que pense seu país como sua mãe idosa a quem não dispõe de tempo suficiente para cuidar. Nas mãos de que enfermeiro vai ficar sua mãe?

Continua...




[Esclarecimento: Meu suburbano coração não se presta a fazer campanha partidária!]
 
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21 setembro, 2006
Periferia
Dia desses estive em São Paulo, e como todas as vezes anteriores parti prometendo voltar com mais calma. Jurei agendar uma visita mais detalhada à cidade. Mais cultural e com maior benevolência aos usuários de expressões como: “mina”, “mano”, “tá me tirando?” e “pinto”. Esse último referente ao pênis e não ao filhote da galinha.

Fato é: paulista fala pinto. Não falo dos meninos paulistinhas, filhos do Morumbi ou dos Jardins, bairros classe A, da classe A do país. Falo dos marmanjões barbados que se referem a si próprios como granjeiros, donos de que?! De pintos! Mas esse não é o cerne da questão. O espantoso é o clima de caos urbano que assola a cidade e que fatidicamente não conseguimos perceber pelas reportagens hermeticamente bem editadas pelo Jornal Nacional.

Em se tratando de Bósnia, São Paulo não está aquém. Não estranhe ao receber a conta do restaurante, antes de pedir a saideira. O motivo? O toque de recolher. Sim, em Sampa há toque de recolher, e não é informal, é padrão. Não se sabe exatamente como começou. Provavelmente quando uma daquelas belas casas noturnas do centro paulistano decidiu fechar as portas temendo a volta pra casa. Em alguns dias outras imitaram e a coisa se estendeu virando hábito.

Logo São Paulo? Internacionalmente conhecida pela sua noite interminável... Uma noite de qualidade como a praticada antes, agora é lembrança do passado. Tal qual, nossa mais tenra memória saudosista das épocas em que podíamos ficar até tarde nas ruas jogando conversa fora. Na época em que (aos nossos olhos) não havia violência e a polícia era “bacana as pampa”.

Assustou-me o comportamento dos paulistas e a fácil adaptabilidade à lei imposta pelos fora da lei. A pré-night se transformou em pós-night, e a vodka com red-bull (entorpecente clássico da juventude classe-mediana), agora fica gelando até o retorno pro hotel.

A razão da mudança? Política!

Por essa razão começamos agora uma campanha de conscientização eleitoral.



E se você não se interessar pelo assunto, vá segurar um pinto!



[Em São Paulo, subúrbio é periferia!
Funk é hip hop,
e meu suburbano coração é o programa da Regina Casé.]

 
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18 setembro, 2006
Ponto final em Portugal
Portugal tem uma superfície de 91985km², uma população de aproximadamente 1052400 habitantes, e sua capital é Lisboa. A renda per capita (US$ 7450) é uma das mais baixas da Europa. A riqueza é mal distribuída, cerca de 13% da população são analfabetos, e a mortalidade infantil é das mais elevadas de toda comunidade Européia; o desemprego é comum (exceto se você for dentista, além de bem pagos há escassez de mão de obra qualificada), bem como o recurso à emigração; e a economia baseia-se ainda numa agricultura de produção, atrasada.

Assim como a maioria do mundo, Portugal também enfrentou uma ditadura, o regime Salazarista instituído em 1932 e que durou até abril de 1974. Sempre enraizado ao passado, lutou até o fim contra o movimento de libertação em Angola, na Guiné e em Moçambique. Envolveu-se em uma guerra que consumiu a maior parte do orçamento nacional, o regime ditatorial entrou em crise e acabou derrubado pelas próprias Forças Armadas.

Portugal construiu-se com ares receptivos desde que edificada pelos primeiros lusitanos - povo de origem ibérica - que se criou em suas terras. No século I a.C. os romanos dominaram sua região, no séc. VIII, sofreu com invasões de alanos, vândalos, suevos e visigodos. Estabelece-se então o domínio mouro - que nada mais tinha que fazer que invadir toda a Europa. No século XII, os mouros, como em toda história Européia, são expulsos de Portugal, que define enfim suas fronteiras.

Nos séculos XV e XVI, Portugal cresce com a Expansão Marítima e a edificação do império Português. Partem para a briga e tomam Ceuta dos mouros. Descobrem o caminho marítimo para as Índias e para o Continente Americano. Em 1807 as forças de Napoleão invadem Portugal e D. João VI foge para o Brasil - trazendo Carlota Joaquina e seus mancebos pra cá.
Em 1822 é proclamada a independência do Brasil, às margens plácidas do rio Ipiranga (no dia 7 de setembro, data oficial de nascimento deste blog!). Parte da família volta para Portugal deixando-nos um imperador poeta e escritor de hinos e cartas porno-decadentes à sua amante Domitila de Castro a quem outorgou o título de Duquesa de Santos (mesmo vindo morar no Rio de Janeiro, mais precisamente em São Cristóvão; atual subúrbio carioca).

Portugal parece não ter história própria, parece ser um esboço do que há no Brasil e por esse motivo divide conosco toda sua história de crescimento, independência e valorização.

Fica definido que Portugal é subúrbio.

E ponto final!
 
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Rua do Brasil

[Foto de umas principais ruas de Coimbra - Portugal. O mais interessante é o detalhe das setas que parece indicar que escolhendo qualquer um dos lados, você estará indo para o Brasil.]

[Se for visitar, vá a pé: a rua é mal asfaltada e cheia de buracos!]
 
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13 setembro, 2006
Se não soubesse que era lá, acharia que era aqui...
[ Fado ]

É tão grande o Alentejo
( Dulce Pontes)

No alentejo eu trabalho
cultivando a dura terra,
vou fumando o meu cigarro,
vou cumprindo o meu horário
lançando a semente á terra.

É tão grande o Alentejo,
tanta terra abandonada!...
A terra é que dá o pão,
para bem desta nação
devia ser cultivada.

Tem sido sempre esquecido,
á margem, ao sul do Tejo,
há gente desempregada.
Tanta terra abandonada,
é tão grande o Alentejo!
 
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12 setembro, 2006
Carta apócrifa de um descobridor

[ Para ser lido com sotaque lusitano, ora pois!]

A brisa do mar arranha meu rosto, não agüento mais vomitar.
Há ratos por todos os cantos e já se vão mais de quarenta dias que não vejo graça em me masturbar.
Confesso-vos que começo achar o gajo da proa com certos ares jeitosos.
A fome me consome, mas já não quero comer (só para não ter que obrar).
Tudo fica pior quando este tal de Henrique – o dito frei – começa suas orações em latim. Vez ou outra, ocorre uma briga no convés e um acaba ferido.
Na última semana, ou terá sido no ultimo mês? Um dos marinheiros foi esfaqueado, e não haviam suprimentos para curar suas feridas.
O demos de comida aos tubarões.
O cheiro da água salgada é pior que o da merda acumulada no porão.
Se alguém me oferecer mais um prato de peixe, te juro que o faço caminhar na prancha.
Cá estou eu, no meio do nada.
Quanto mais longe estamos, mais quente fica.
Todo o tipo de doença de pele se assoma ao meu corpo.
Minhas vestes já não servem nem mais para os giras.
Acho que me aproximo do centro da terra. Ou do inferno, o que chegar dantes.
Em noites de lua cheia, me afasto de todos e os vejo numa mistura de alegria e loucura que os assolam as madrugadas.
As lendas do mar enfeitam a imaginação desta gente, que já começa a sonhar com uma civilização onde há ouro e as mulheres andam nuas.
E todos os dias me pergunto:
- Raios! Donde diabos está a tal Ilha de Santa Cruz?
 
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11 setembro, 2006
Suburbano de trás dos montes
Desde que o mundo é mundo – e para nós, lá se vão uns quinhentos anos – que o subúrbio é latente do povo brasileiro. Talvez por tal motivo a idéia principal desta coluna tenha se transformado de subúrbio carioca em meu suburbano coração. Limitar o subúrbio ao Rio de Janeiro é uma injustiça sem tamanho.

Enquanto pensava na concepção deste espaço buscava em minhas raízes, material biográfico pra preencher folhas em branco. E qual não foi meu espanto quando me vi pensando além mar.

Quem conhece Portugal vai entender do que estou falando. Talvez de todos os países europeus Portugal seja o mais brasileiro que possamos encontrar. Também, pudera. Nossos colonizadores deixaram por aqui uma semente cultural indissolúvel, que vai desde o idioma até uma interminável ordem de doenças trazidas à bordo da nau. Pensar Portugal é se ver naquele povo, é encontrar um felicidade inexplicável e certa vergonha de possuí-la.


É considerar que se a definição de subúrbio contida no Aurélio, for realmente sincera, toda nossa extensão de terra até hoje se encontra delimitada a essa realidade. Brasileiro é sub urbano por natureza. Somos uma tentativa forçada de repetição. E talvez por isso tenhamos tanto charme. Suburbano que se preza, imita, mas acaba fazendo do seu jeitinho. Um jeitinho todo especial. Distante de Portugal estamos, e isso é fato. Tem um oceano aí no meio que não nos deixa mentir. Mas a distancia se limita às milhas dessa ponte aérea. Portugal é aqui.

Em cada esquina se pode ver um beco frio de janelas justa-postas onde se beiram ruas e avenidas que levam a lugar nenhum. Por ali e por aqui há varal, crianças brincando nas ruas, vizinhos que se preocupam com as vidas alheias, fofocas, intrigas e uma receptividade que não se sabe de onde vem. Ali a mentalidade é atrasada, preconceituosa, religiosa e machista. Portugal teme a Deus, e castiga aos homens. A moral e os bons costumes rezam sua conduta, tal qual o mais interiorano comportamento mineiro. Em Portugal, as mulheres ainda sonham em casar de branco. E há fila pra confissão nas igrejas...



De Portugal não se vê a Europa. De fato, nem a própria Europa os vê ali. Fosse a situação diferente não haveria tanto savoir faire no estilo luso-brasileiro de ser. Talvez acabássemos com cara de Bariloche assemelhando-nos a mais insuportável espécie de Argentino já existente. Ou acabaríamos devendo favores eternos aos descobridores de gente já descoberta. E, diga-se de passagem, totalmente descoberta no calor dos trópicos.

Certamente eles sabem que se eles têm Camões, nós temos Paulo Coelho... Sei, sei,...o exemplo não é dos melhores. Mas preferi citar esse a lembrar que se eles têm Felipão, nós temos Dunga! Em Portugal a culinária é rica, as mulheres roliças, as casas agrupadas e a brisa do mar nos faz lembrar constantemente que há coisa melhor do que àquele país, mas que nunca se trocaria o berço por qualquer PIB milionário do planeta.

Achando ou não a grama do vizinho mais verde que a sua, nada se compara a sensação que se têm quando se volta pra casa. Assim bate o suburbano coração, orgulhoso de seu berço esplendido, e de carregar a marca de um povo que sabe receber, e não faz exigência de RSVP.




[Tudo muito lindo na política da boa vizinhança. Mas se tratando de Carlota Joaquina ela que bata o pó de suas sandálias e deixe nossa baianidade nagô (afinal foi por aquelas bandas que nasceu o Brasil) falar mais alto! Vá dançar o vira com as cabrochas bigodudas e deixe nossas mulatas globelezas empolgar o carnaval. ]
 
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08 setembro, 2006
Aprendendo com os Buarque de Hollanda
Segundo Aurélio:

subúrbio
sm.1.Arredores de cidade ou de qualquer povoação. 2. Brás., RJ. Bairro afastado do centro da cidade e que, originalmente,era ligado a este apenas por linha ferroviária.

Segundo Chico:

Subúrbio

Lá não tem brisa
Não tem verde-azuis
Não tem frescura nem atrevimento
Lá não figura no mapa
No avesso da montanha, é labirinto
É contra-senha, é cara a tapa
Fala,Penha
Fala, Irajá
Fala, Olaria
Fala, Acari, Vigário Geral
Fala, Piedade

Casas sem cor
Ruas de pó, cidade
Que não se pinta
Que é sem vaidade
Vai, faz ouvir os acordes do choro-canção
Traz as cabrochas e a roda de samba
Dança teu funk, o rock, forró, pagode, reggae
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Desbanca a outra
A tal que abusa
De ser tão maravilhosa

Lá não tem moças douradas
Expostas, andam nus
Pelas quebradas teus exus
Não tem turistas
Não sai foto nas revistas
Lá tem Jesus
E está de costas
Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Pavuna
Fala, Inhaúma
Cordovil, Pilares
Espalha a tua voz
Nos arredores
Carrega a tua cruz
E os teus tambores
Vai, faz ouvir os acordes do choro-canção
Traz as cabrochas e a roda de samba
Dança teu funk, o rock, forró, pagode, reggae
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Fala no pé
Dá uma idéia
Naquela que te sombreia

Lá não tem claro-escuro
A luz é dura
A chapa é quente
Que futuro tem
Aquela gente toda
Perdido em ti
Eu ando em roda
É pau, é pedra
É fim de linha
É lenha, é fogo, é foda
Fala, Penha
Fala, Irajá
Fala, Encantado, Bangu
Fala, Realengo...

Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Meriti, Nova Iguaçu
Fala, Paciência...
 
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Nota do Autor:
Nascimento que se preze, implica em celebração. Fila de espera na maternidade, charutos acendidos e a apresentação do nome. Confesso que a intenção primeira para essa ocasião era um samba exaltação com direito a uma mulata bossa nova, caindo no rali-gali no meio do salão da Portela.

Contenção de despesas e notoriedade anônima me fizeram cair na real. Escreveria pra ninguém. Não fosse a dura insistência da idealizadora, musa inspiradora, conceptora e –queira Deus – eterna colaboradora desta, provavelmente seria mais uma torrente de idéias que acabariam esquecidas como tantas outras no vazio profundo desta mente arbitrária.

Oras, não é porque ninguém vai ler que deixarei de fazê-lo. Fá-lo-ei! A partir de hoje, ou melhor, de ontem, nasce meu suburbano coração. Que, aliás, nasceu há vinte e tantos anos atrás, mas de fato apenas hoje decidiu expor-se. Expõe-se de alma lavada e cara limpa, mas será mentiroso se disser sem máscaras. Mascarado é! Mas qual não?

Não pensem vocês, que discorrerei sobre minha psiquê, que chorarei minhas mágoas particulares, que mandarei recados de amores frustrados, que exibirei meus finais de semanas agitados mostrando quão popular sou, ou que farei corte e colagem de textos alheios. Não! A coluna que se apresenta, tem caráter histórico, jornalístico, turístico, fotográfico, arquitetônico, cultural, poético e porque não dizer piegas. Isso tudo bem medido e bem dosado ao senso de humor refinado, herdado de berço que carrego por dom transcendente em minhas veias.

Enganam-se os senhores se pensam que perderei meu tempo fazendo galhofa e traçando estereótipos típicos novelísticos do suburbano. Jamais. Sempre achei por demais exagerada a maneira jocosa com que o núcleo B é traçado nas tramas. Até meio inverossímil. Mas, guardo meus comentários sobre esse assunto para o futuro. Aqui não haverá espaço pra preconceito de ordem classista ou cultural. Ou de qualquer outra espécie – só para ser politicamente correto.

Semanalmente – oxalá, eu consiga atualizar isso uma vez por semana – uma nova janela em sua vizinhança será aberta. Um novo convite a percorrer as tortas ruas do lado de lá será proposto, e cabe a você, leitor, aceitar o convite. Dicas de roteiros, paisagens, atividades culturais, personalidades e afins serão dadas, sempre com os valores e os itinerários informando como chegar, voltar, e os melhores horários de locomoção, já que o trem das onze é o ultimo que vai sentido Jaçanã.

Meu suburbano coração resgata a cidade adormecida, esquecida e mal tratada. E mesmo temendo parecer presunçoso, se propõe a ser um veículo de utilidade pública. Por isso caro leitor, se aquele vereador mentiroso prometeu tapar àquele buraco na sua rua que emana esgoto e doenças há mais ou menos o tempo de seu mandato, não hesite em por a boca no trombone. Citaremos nomes e funções dos responsáveis e tentaremos entrar em contato com as autoridades competentes fazendo-nos assim um bem maior. O bem viver, o bem morar!

Suburbano coração é mesmo assim: busca a beleza esquecida que beira a linha do trem. E mostra que há uma vida agradável do outro lado do túnel.

Sejam bem vindos aos primeiros tum tuns de um pulsar descompassado!

Branco!
 
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06 setembro, 2006
Desencontrários
Desencontrários

Mandei a palavra rimar,
ela não me obedeceu.
Falou em mar, em céu,
em rosa,em grego,
em silêncio, em prosa.
Parecia fora de si, a sílaba silenciosa.
Mandei a frase sonhar,
e ela se foi num labirinto.
Fazer poesia, eu sinto,
apenas isso.
Dar ordens a um exército,
para conquistar
um império extinto.

Paulo Leminski
 
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